Previsões comportamentais do consumidor PÓS-COVID-19 ainda me parecem um surto coletivo.

Esse texto tem base em diversos outros, é um compilado de algumas informações e estudos confiáveis que temos hoje na internet.

Leila Evelyn
4 min readJun 3, 2020

Em todo mundo, se discute os impactos do COVID-19. O vírus, para além de pressionar o sistema de saúde, também gera profundo impactos econômicos e sociais. O chamado “novo normal” ainda não é de total conhecimento, estamos nos surpreendendo a cada dia com notícias e pesquisas que tentam prever o imprevisível. As perspectivas, a princípio, podem parecer negativas e extremamente pessimistas, mas, assim como a escritora americana Octavia Butler, em A parábola do semeador (1983), escolho absorver a mudança como um processo inevitável de nossa existência, nada confortável e muito custoso. Precisamos nos adaptar.

Tudo o que você toca
Você muda.
Tudo o que você Muda
Muda você.
A única verdade perene
É a Mudança
Deus É Mudança.
- Semente da Terra: os livros dos vivos

Octavia Estelle Butler, foi escritora afroamericana consagrada.

Em um momento de tensão como esse, o foco está no consumo de produtos básicos e indispensáveis. Houve uma queda brusca de movimentos do varejo durante o período de crise. O índice Boa Vista, responsável por medir o movimento do comércio no Brasil, registrou a terceira queda consecutiva em abril, 26,6% em comparação a março e a tendência parece ser de piorá. No entanto, a categoria de supermercados, alimentos e bebidas foi a única a não apresentar queda e apresentar uma leve alta, 0,1% no mês. Móveis e eletrodomésticos estão na categoria de maior queda, 83,3%.

O desempenho econômico brasileiro reflete fragilidades sociais, desigualdades que impactam o consumo em tempos de pandemia. O Brasil é vice-campeão mundial em concentração de renda, segundo o Relatório de Desenvolvimento Humano da ONU, 1% da parcela mais rica da população detém 28,3% do PIB. Essa parcela mais rica gasta 21% de sua renda com tributos, enquanto os mais pobres tem que gastar 32%. Quando trata-se do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), que tem como base indicadores de saúde, educação e renda, o Brasil está na 79ª posição de um total de 189 países.

Mesmo que em ritmo lento, estávamos reduzindo os índices de desigualdade desde a promulgação da constituição, em 1988. Não é estranho ouvir que, nos anos 2000, nascia a nova classe média, isso é, o consumidor brasileiro mudou: revigoração da economia nordestina, TV’s de plasma, funk ostentação, pessoas pretas e periféricas em universidades. Essa trajetória foi interrompida entre 2016 e 2017, desde então, se mantém inalterada. Vale ressaltar que nem tudo eram flores, ter acesso a determinados produtos e serviços não torna todos iguais, a concentração de renda sempre assombrou uma sociedade estruturalmente desigual, o Brasil, como tantos outros países, foi colonizado e desde então têm um histórico extremamente violento.

São 5,12 milhões de favelas ou aglomerados em todo país segundo pesquisa divulgada pelo IBGE, “Aglomerados Subnormais 2019: Classificação preliminar e informações de saúde para o enfrentamento à covid-19”, mais do que o dobro do número apontado em no Censo de 2010. Esse tipo de habitação são caracterizadas por um padrão urbanístico irregular, carência de serviços públicos essenciais, como saúde e educação, e localização em áreas que apresentam restrições à ocupação.

Os mais pobres não têm controle financeiro, claro. Em abril de 2020, de acordo com a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), o número de famílias endividadas bateu novo recorde, 66,6%, o maior número desde 2010. Nesse contexto, é impossível desassociar a influência de grandes bancos que monopolizam a economia e são responsáveis por boa parte dos endividamentos. Há uma crise de narrativas. Mesmo o Itaú, que decidiu doar 1 bilhão e criar uma frente de combate ao coronavírus, enfrentou críticas na internet.

A pandemia evidenciou classes mais baixas em casas sem saneamento básico, em bairros sem estrutura social, atendidos por um sistema de saúde precário. Enquanto classes mais altas podem passar a quarentena em casa, pessoas mais pobres saem para trabalhar, correndo maior risco de serem infectados. Movimentos sociais já reivindicam políticas públicas próprias há anos, atualmente, graças à ausência do estado, é uma alternativa latente que tem motivado protestos.

As previsões de futuro são instáveis, alguns afirmam que vamos sair da crise melhor do que entramos, outros que o home office é uma nova realidade de trabalho, outros que esse estado atual é o novo normal. Em sua maioria, as previsões parecem excluir classes abastadas. A desigualdade, no entanto, vai continuar a influenciar nas mudanças, o que inclui padrões de consumo. Mudanças são desconfortáveis, porém inevitáveis.

O momento é insustentável, a concentração de renda mata e ainda matará muitos brasileiros, existem grandes possibilidades de convulsões sociais. Grandes empresas precisam contribuir, estão sendo cobradas a se posicionar e isso pode indicar um comportamento ainda menos tolerante com publicidades vazias e organizações que não contribuam, de fato, para a sociedade a qual estão inseridas.

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Leila Evelyn

Me disseram que essa era a mídia social do textão, por esse e outros motivos, aqui estou. — 26 anos, Relações Públicas, produtora e várias fita.